terça-feira, 8 de novembro de 2011

Azul investe US$ 850 mi em novos aviões

São Paulo - Devagar e sempre: esta é a estratégia que a Azul Linhas Aéreas Brasileiras continuará empregando em 2012 para seu crescimento. É o que se pode depreender das palavras de seu presidente, Pedro Janot, e de seu diretor de Comunicação e Marca, Gianfranco Beting, ditas ontem no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), na apresentação da nova aeronave da empresa, o turboélice ATR 72-600. A compra de outras companhias aéreas, uma prática que nunca fez parte do DNA da Azul, parece continuar descartada. "Estamos muito confortáveis com o crescimento orgânico que a empresa vem tendo desde sua fundação", enfatiza Janot. Bater de frente com as líderes do setor também não faz parte dos planos: "A Azul tem a missão de desenvolver novos mercados, não roubar os que estão em mãos da TAM e da Gol", continua ele. Mas isto não significa falta de ousadia: "Compraremos 40 turboélices ATR 72-600 para a frota da empresa até 2015, pelo preço de US$ 850 milhões", revelou Beting ontem - o que é um dos maiores investimentos em aquisição de aeronaves já feito por uma companhia aérea brasileira.

Trata-se da repetição, até certo ponto, da estratégia já empregada com sucesso por David Neeleman, o criador da Azul, nas outras aéreas fundadas por ele na América do Norte. "A Azul foi muito bem planejada desde o início de suas operações, em dezembro de 2008. Neeleman tinha obtido grande experiência no setor com a JetBlue Airways nos EUA e a WestJet no Canadá", observa Christian Majczak, especialista em aviação da GO4 Consultoria. "Nestes dois cases ele foi capaz de crescer mais do que o restante do setor usando uma estratégia muito clara: oferecer serviço melhor do que os concorrentes a um preço competitivo. É uma proposta desafiadora, porque guarda em si uma contradição: melhorar o serviço tende a custar mais caro", explica ele.

Campinas

Ontem, às 11 horas, das 24 posições do painel de voos do aeroporto de Viracopos, 2 eram ocupadas pela Gol, 1 pela Trip Linhas Aéreas e 1 pela TAM. Todas as outras 20 anunciavam embarque ou desembarque da Azul. Isto demonstra o predomínio absoluto que a empresa tem no complexo, que é o grande hub da Azul. "Hoje geramos quase 80% do movimento diário de Viracopos", orgulha-se Janot. Mas ele lembra que a aérea vem se fortalecendo em outros terminais, em especial os de Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Tudo para atrair clientes à sua proposta de aviação regional. "Quando surgimos, TAM e Gol detinham 96% do mercado aéreo do País; hoje, juntas, elas têm cerca de 80%. E a Azul vai entrar em 2012 dona de 10% do mercado, com certeza."

"Quando existe preço baixo e alta frequência de serviço, as pessoas voam", afirma Beting. A ideia é usar os ATRs em rotas curtas, nas quais estes são mais econômicos que jatos. "O turboélice impulsiona o transporte aéreo regional porque seu custo é acessível", enfatiza ele. Beting lembra que o auge da aviação regular no Brasil se deu em 1957, quando havia rotas para nada menos que 357 municípios do País. No início dos anos 70, porém, a capilaridade do sistema havia caído dramaticamente: só cerca de 60 cidades eram servidas por voos regulares. 

Tal situação só começou a mudar no final daquela década, quando turboélices como o Bandeirante, da Embraer, ou os Lockheed Electra começaram a ser adquiridos maciçamente por companhias brasileiras.

Pontualidade e custos

Atualmente, a Azul conecta 40 destinos em 39 cidades, com 300 voos diários. Além dos ATRs, a empresa receberá oito novos jatos Embraer-195, para 118 passageiros cada, até o final de 2012. Estes aviões não estão inclusos no acordo anunciado recentemente para a entrega de 11 outros 195 entre 2013 e 2014.

Majczak comenta o modelo de negócios da companhia: "Algumas das principais características da Azul são o uso de aviões menores, para aumentar a taxa de ocupação das aeronaves, busca de rotas não atendidas pelas gigantes Gol e TAM, gestão de custos rigorosa e foco na pontualidade dos voos [um ponto fraco deste setor no Brasil]". Mas ele alerta: "Apesar de tudo, persiste o problema de que, até onde se sabe, a empresa não gerou lucros até hoje. Resta ver se os investidores terão paciência para aguardar o retorno de seu investimento". E Majczak acrescenta: "Não acho impossível que, à medida que a Azul continue crescendo e passe a incomodar mais às concorrentes, algum dos grandes players faça uma oferta de aquisição por ela. Mas, como Neeleman tem muito interesse em nosso mercado [que de fato tem um enorme potencial] e a empresa tem mostrado ser capaz de um crescimento contínuo, o preço a ser pago por ela certamente não seria pequeno". 

Vale lembrar que há tempos especula-se sobre uma iminente abertura de capital da Azul - sobre a qual a empresa prefere não adiantar datas.

Cenários

Indagado acerca da viabilidade de se replicar no resto do País o modelo que a Azul aplica com êxito no rico interior de São Paulo, principalmente, Janot responde: "O Brasil hoje vivencia a formação de novos centros econômicos que se espalham por seu território. Temos o desafio de dar a eles uma aviação regional de qualidade". Sobre o setor como um todo, ele diz estar otimista: "Acreditamnos que o mercado nacional de aviação tem potencial para ser três vezes maior do que é hoje". E Janot enfatiza: "Viracopos tornou-se, para nós e para o País, um polo gerador de riquezas. Campinas e seu entorno possuem um Produto Interno Bruto (PIB) equivalente ao do Chile, e estamos felizes em fazer parte disto".

"Vejo dois cenários para o futuro da Azul", adianta Majczak. "Se a empresa conseguir êxito em sua opção pelo mercado regional e de curta distância, ela terá fôlego para se desenvolver a médio prazo, já que sai na frente das demais ao explorar este nicho." Mas ele pondera: "A outra possibilidade é que este caminho não renda os frutos esperados e a companhia não consiga gerar lucros também em 2012. Se isto ocorrer, a pressão dos investidores por resultados pode comprometer seu modelo de negócios e sua continuidade", finaliza o analista.


Por DCI

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