Justiça põe fim a cemitério de avião em Viracopos

O cemitério de aeronaves no Aeroporto Internacional de Viracopos está com os dias contados. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu remover todos os 119 aviões abandonados nos aeroportos brasileiros que estejam aguardando decisões judiciais em decorrência de falência ou apreendidos por envolvimento com atividades criminosas. No terminal de Campinas, sete aviões ocupam uma área de aproximadamente 7 mil metros quadrados e embora ainda não haja uma data definida para a retirada dos aviões, a expectativa da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) é de que com a desocupação definitiva do espaço, uma área maior seja disponibilizada para o estacionamento de jatos executivos.

A maior parte das aeronaves abandonadas nos aeroportos do País é de empresas que faliram e aguardam a liquidação judicial dos seus bens para a quitação de dívidas junto à massa falida. A primeira ação do programa denominado Espaço Livre tem como alvo as 27 aeronaves da Vasp, cuja falência foi decretada em 2008 e estão espalhadas pelos aeroportos do Brasil há cerca de seis anos. Segundo o CNJ, só no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, nove aeronaves da Vasp estão abandonadas, além de outros aviões que aguardam por uma decisão da Justiça em aeroportos do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Manaus, Brasília, Guarulhos e também em Campinas.

Na cidade, um Boeing 732 é uma das aeronaves que ocupam uma região do terminal conhecida como “área remota”. Estacionadas entre o mato que cresce ao redor, a maior parte dos aviões está em estado precário de conservação. Funcionários do aeroporto informaram que há pelo menos três anos nenhum dos aviões passa por qualquer tipo de manutenção e até mesmo componentes de alto valor, como as turbinas, passaram a ser abrigo para pássaros e marimbondos.

Além do avião da Vasp, duas aeronaves DC-8 da empresa Skymaster, um da Montiniere e um da TCB juntam-se a um Boeing 707 da companhia Beta e um avião Cessna da Lubraus Cargo. A Infraero informou que o custo médio da diária de permanência desses aviões é de R$ 230,00. O valor é cobrado da massa falida e quando as aeronaves forem leiloadas para o pagamento de dívidas, parte do dinheiro que seria destinado aos credores terá de ser reservado para o pagamento das diárias.

O especialista em direito aeronáutico Fernando Gonçalves Coelho disse que a ausência de um local reservado no Brasil para o depósito de aviões obsoletos prejudica o estado de conservação das aeronaves. “Um Boeing 737 novo custa ao redor de R$ 70 milhões. Muitas dessas aeronaves abandonadas nesses pátios, depois de passar por um processo de deterioração grave, não chegam a valer R$ 500 mil nos leilões, prejudicando quem aguarda pela quitação de alguma dívida com a empresa”, disse.

Segundo o CNJ, a ideia é retirar, até o mês de julho, todos os aviões que estejam vinculados às massas falidas e, até agosto, os que forem apreendidos em processos criminais. O órgão informou que em função da dificuldade de se vender as aeronaves inteiras — devido ao baixo valor de mercado — os aviões deverão ser desmontados e transportados por caminhões do Exército que os destinarão para aeroportos referências para esse tipo de função, ainda a serem escolhidos.

A Azul Linhas Aéreas Brasileiras, com sede em Campinas, tem interesse em transformar parte da área do cemitério em estacionamento para seus clientes. O diretor de comunicação da empresa, Gianfranco Beting, elogiou a iniciativa e disse que a retirada dos aviões ajudará a liberar espaço nos terminais brasileiros. “Tudo que é feito para ampliar a capacidade dos terminais, ajudará não só a Azul, mas toda a aviação brasileira”, disse.

Por RAC