domingo, 2 de janeiro de 2011

Portal da Carga Aérea no Brasil


Ainda era madrugada, mas muitos já estavam preparados para receber a ilustre visita da "Prinses Máxima", da Holanda, que estava vindo diretamente para o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP). Às 3h00 da manhã, quando acordávamos em São Paulo para acompanhar a sua chegada, recebemos a informação de que "ela" já havia decolado de Tenerife, na Espanha, e o pouso estava estimado para as 6h47, horário local. Equipes de seguranças com detectores de metal, lista das pessoas que teriam acesso à aeronave, equipamentos de suporte para desembarque, tratores, cones, push-back, caminhão de abastecimento, trailers para transporte de bagagens e mais uma infinidade de itens estavam checados à espera do pouso. Enfim, seguindo estritamente o horário previsto, a "Prinses Máxima" tocou o solo brasileiro e em questão de minutos se dirigiu para a área do Terminal de Cargas (TECA) da Infraero, onde uma pequena multidão aguardava ansiosa a sua chegada. Mas, ao contrário do que você está imaginando, este não era um voo executivo trazendo a Sua Alteza para uma visita ao Brasil. Tratava-se de voo da companhia holandesa MartinairCargo com mais de 70 toneladas de carga a bordo do McDonell Douglas MD-11 "PH-MCU" – o "Prinses Máxima".
Mas como funciona a preparação, recebimento, descarga e carga de uma aeronave dessas? Para entender o processo como um todo, é preciso voltar algumas horas antes do pouso do MD-11...
Em Viracopos, a Swissport é a responsável por mais de 90% das operações de ground handling (apoio de logística e equipamentos de solo), prestando serviços para as empresas UPS, Absa, Arrow Air, Lufthansa, LAN Cargo, Cielos del Peru, Masair, VariLog, Master Top e a própria Martinair. Assim, por volta das 23h00 de 24 de novembro último, a equipe da Swissport Cargo Services (SCS, empresa do grupo que complementa as operações de ground handling fazendo o tratamento físico e documental da carga) já tinha em mãos o Conhecimento Aéreo (documento onde é especificado o remetente, destinatário, quantidade de volumes, peso, tipo de carga e valor do frete) de cada uma das cargas do "Prinses Máxima". Todas essas informações foram alimentadas pela Swissport no sistema da Receita Federal, o Siscomex Mantra, que por sua vez tem esses dados disponíveis uma hora antes da aeronave tocar no solo brasileiro. A SCS também tem ainda a responsabilidade de auxiliar na imigração dos pilotos e tripulantes das aeronaves cargueiras, atuando como um facilitador para agilizar ao máximo as operações em solo da aeronave.
Assim, ao pousar em Viracopos, nada menos que 25 funcionários da Swissport estavam prontos para receber o MD-11. A equipe de ground handling imediatamente fez o isolamento da aeronave com os cones, forneceu as escadas de acesso e colocou à disposição os tratores e equipamentos de suporte à operação. "Para uma aeronave que vem com aproximadamente 70 toneladas de carga normal, ou seja, que não excede as dimensões do palete, nós levamos em média uma hora para descarregar. Já para cargas especiais, que são maiores que os paletes, nós levamos mais tempo para girá-las na porta principal de saída de carga" explicar Sérgio Monti, supervisor de Operações da SCS e loadmaster do MD-11.
A Martinair é um exemplo claro do conceito aplicado pela Swissport chamado de one-stop shop (todos os serviços num só lugar), ou seja, o tratamento documental e de ground handling é todo executado por uma única empresa. Toda e qualquer pessoa que entre e saia da aeronave, incluindo os próprios funcionários da SCS, são revistadas por um segurança com detector de metais, para evitar que objetos e materiais sejam colocados ou retirados do avião.
Enquanto o MD-11 era descarregado, alguns funcionários já traziam para perto dele toda a carga a ser embarcada, para minimizar o tempo de solo de aeronave. Já na madrugada, enquanto a equipe de importação fazia a leitura e o repasse dos dados do Conhecimento Aéreo para a Receita Federal, o pessoal de exportação realizava os últimos acertos na carga a ser transportada pelo MD-11. "Se você não tiver a carga pronta não é possível realizar o plano de voo e nem mesmo saber a quantidade de combustível a ser colocada naquela aeronave. Você precisa saber o peso total da aeronave, quantidade de paletes a serem embarcados e o peso de cada um deles, para que o pessoal da Martinair, em Amsterdã (Holanda), possa fazer, através do sistema, o balanceamento da aeronave, ou seja, a disposição dos paletes dentro dela", completa Monti. A operação de carregamento do "Prinses Máxima" levou aproximadamente uma hora. Feito isso, a aeronave foi completamente abastecida e, por volta das 10h35, estava decolando de Viracopos, seguindo sua viagem de volta a Holanda.
Mas, em solo, a trabalho não para aí.
O TECA DA INFRAERO EM VIRACOPOS.

Conforme as cargas eram retiradas do MD-11, os tratores da Swissport rapidamente as levavam para o TECA da Infraero, no setor de importação. Lá, as cargas são retiradas do palete aeronáutico e encaminhadas ao setor de recebimento, que vai conferir os dados do Conhecimento Aéreo e gerar um código especial da Infraero. A partir dali, as cargas são destinadas aos armazéns, de acordo com as suas dimensões, tipo e características. Em Viracopos, a Infraero possui dois armazéns verticais automatizados, sendo estes dos mais modernos e avançados do país. "O sistema automatizado de transelevadores 'padrão verde' foi implantado em abril de 2002, com capacidade total de 10.040 células para armazenamento, sendo o peso máximo permitido de 1.000kg em cada uma, e os andares distribuídos em quatro alturas distintas, sendo estas: 1,20m (5.257 células), 1,50m (2.935) e 2,20m (152 células)", explica Lilian Ratto Neves, superintendente da Infraero no Aeroporto Internacional de Viracopos. Ao todo, são dez corredores, sendo cada um deles equipado com um transelevador, que recebe a carga e destina para a sua célula, registrando o seu local de armazenamento. O transelevador pode fazer até 25 movimentações por hora.
"No geral, todo o armazém verticalizado é composto por partes como portal de entrada, transportador de entrada e de saída, berços de entrada e de saída, pontos de entrega, mesas giratória e elevatória, elevador, entre outras dotadas de tecnologia eletromecânica e pneumática, de forma a não haver interferência humana no processo. Ao todo o investimento foi de R$ 9,15 milhões", comenta Neves. O segundo sistema automatizado de transelevadores, "padrão azul", foi inaugurado em 2004, com capacidade de 3.802 células, para cargas de até 30kg. Em maio de 2005, o sistema foi ampliado devido ao aumento da demanda, passando a contar com 8.080 posições. Para este armazém, a Infraero investiu R$ 6,29 milhões.
Apenas para a área de logística de Viracopos a Infraero conta com um corpo de 486 funcionários orgânicos e 478 terceirizados e, além dos armazéns verticalizados automatizados, o TECA dispõe de outras áreas para estoque de cargas. Segundo a empresa, os estudos e as estatísticas indicam que haverá um crescimento de 41% na movimentação de carga importada e exportada se comparados aos números registrados em 2009. Para 2011, 2012 e 2013, projeta-se o crescimento, respectivamente, de 4,5%, 10,25% e 16,31%. "Além das adequações internas, existem diversos investimentos previstos ou em andamento, entre os quais destacamos o novo sistema de TV de vigilância dos terminais de logística de cargas do Aeroporto Internacional de Viracopos, o qual já tem uma empresa declarada vencedora, e a atualização tecnológica do transelevador, em trâmite junto às áreas internas da Infraero, com previsão de publicação do edital no primeiro trimestre de 2011. Em relação às obras de ampliação de área ou construção de novos terminais, estão em andamento os projetos para ampliação dos terminais de importação e exportação, construção do novo terminal de cargas vivas, dos terminais de cargas restritas, nacional e courier, nesse caso, dobrando a capacidade atual de movimentação de cargas."
Até outubro deste ano, mais de 220 mil toneladas de carga foram movimentadas no aeroporto, considerando as importações exportações. Viracopos é o segundo aeroporto brasileiro com maior movimentação de carga e o 12º em transporte de passageiros. "O objetivo das ampliações é estratégico, garantindo acomodação de cargas para situações de demanda excepcional. Essa ação coloca o terminal de cargas à frente das necessidades dos clientes do comércio exterior", conclui Neves.
Depois da carga ser verificada e liberada pela Receita Federal, o material fica à disposição do destinatário para ser retirado do TECA. "Posso dizer que sem o apoio da Infraero, em todos os sentidos, nosso trabalho seria difícil de ser executado. Essa parceria que temos com a Infraero é fundamental para a manutenção de todas as nossas operações, tanto em Viracopos como nos demais aeroportos em que estamos presentes", afirma Ubiratan Lago, gerente de Vendas e Marketing da Swissport.
E assim este ciclo é concluído. Nós não temos idéia, mas muitos objetos que estão ao nosso redor passaram por aviões como o "Prinses Máxima", foram manuseados pelos competentes funcionários da Swissport e armazenados nos modernos TECA da Infraero. O papel desta revista e a tinta impressa nele são alguns exemplos.
Fonte: Revista ASAS, nº 58

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